Devido a insistências de amigos que viram toda minha angústia, resolvi, um pouco relutante, mas achando ser importante para contribuir com o debate mais um post democrático e nada perseguidor. Conheci o FDE em 2012 no Rio + 20 que teve no Rio de Janeiro,na época teve a cobertura colaborativa juventude rio + 20 e eu participei como aluna da ESPOCC. Na época eu não procurei muito saber do assunto, tava envolvida nas palestras que eu estava cobrindo e participando na rio + 20, empolgada com toda aquele clima, cidade cheia, que me limitei a conhecer as meninas que estavam na cobertura comigo, ter uma relação agradável e de mínima afinidade já que eram jovens da mesma faixa etária que eu. E depois o famoso add no face, tchau e benção. Passaram -se um meses e uma das meninas que eu tinha conhecido no encontro da casa FDE Minas me mandou uma mgs no face de um edital de vivência na casa Minas. Na hora agitada que sou olhei bem rápido e nem abri, depois passou uns dias e ela perguntou se eu tinha me inscrito. Eu fui lá e me inscrevi com aquela ideia que era alguma coisa de comunicação e que teria muita coisa para eu aprender .Passou um mês se nenhuma resposta até que me ligaram de minas e disseram que eu tinha sido aceita e que a viagem tinha sido marcada na mesma semana. Por intuição aceitei, pensei que já que apareceu a oportunidade era para ser, e fui focada na ideia que ia aprender mais sobre mídias redes, etc.. Como eu não tinha pesquisado nada sobre o movimento cheguei na casa coletiva sem saber que era uma casa coletiva e que todo mundo morava la.Fiquei uns 15 dias na casa Minas, acho que a primeira coisa que choca é quando você pensa que eles dividem tudo, comida, quarto, roupa, e o dinheiro, etc. Mas depois do choque vem a admiração. A primeira semana eu me incomodei um pouco de ficar sempre em casa, sentada em frente ao computador. Me lembro de ter pensado "será que vou ficar aqui os 15 dias sentada?" "sem nunca sair ? " Tava quase me arrependendo de ter ido quando começamos a viajar para algumas cidades do interior de minas, fazer cobertura do congressos e ai percebi que nada era estático. Tinham dias que ficavam mais em casa, outros que viajavam, algumas pessoas da casa tinham tempo para fazer atividade física, aula de inglês, etc. Uma vida "normal" apesar de morarem todos juntos e os afazeres domésticos eram realmente divididos. Hoje, depois que conheci a casa SP, tenho a impressão que as outras casas fds espalhadas pelo Brasil tem uma galera orgânica buscando uma novo modo de vida, e com boas intenções, talvez a coisa funcione na prática em algumas casa, em algumas pessoas. Não dá para saber o que move todas as pessoas que chegam até o fde e ficam.. ..... 2 round Sai de lá empolgada e feliz coma experiência que eu tive, principalmente na parte prática aprendi muita coisa de marketing digital, de publicização de ações e cobertura, coisas que a faculdade não ensinou. Então eu sai de lá com uma decisão que queria uma casa fora do eixo do Complexo do Alemão, intensa que sou me joguei totalmente nessa ideia. Eu pensei como seria bom para gente (meus amigos do alemão) , ter uma casa junto, passar o dia criando e pensando em ações na favela, poder dividir os recursos, ficaria mais fácil para todo mundo. E não iamos ser esmagados pelo sub emprego e pela necessidade de ter que pagar as contas enquanto a gente queria criar e produzir em nosso território. Logo depois encontrei o Pablo no encontro da agencia de redes para juventude que teve na eco ( o mesmo encontro que o Hanier conheceu a galera). Falei com ele que a gente deveria organizar um grupo de jovens moradores da favela para ter uma vivência na casa. Ele gostou da ideia e me falou do congresso de comunicação que tava prestes acontecer o PRELIMINARES e que seria interessante ir. Falei com o coordenador da ESPOCC, e argumentei que seria interessante levar uma galera da ESPOCC e que seria uma troca bem enriquecedora. Na mesma semana mandei um email pro pablo perguntando se a gente bancasse o transporte desses jovens se eles podiam ficar responsáveis pela hospedagem e alimentação. Ele falou que sim e fomos para o premilinares eu mais 3 alunos da ESPOCC. Foi ai que eu comecei conhecer melhor e me aproximar da casa FDE SP. Talvez com a correria que a casa SP tem, sempre com tantos eventos, a divisão dos afazeres domésticos não era igualitária. Tinham umas duas ou três pessoas que ficam só por conta da casa, as reuniões a noite tinha sempre aquele modelo de um grande circulo e uma pessoa no meio que falava, dava as diretrizes, os demais comentavam, mas sempre com falas para concordar. Dava para perceber que era um coletivo com divisões hierárquicas bem definidas, o que eles chamam de lastros.. Mas até aí tudo bem, isso era um mero detalhe, eu estava bem empolgada, bem encantada, aberta a todo mundo, achando que tava fazendo amizades, que as pessoas se interessavam de fato em mim, que a gente podia fazer algum junto pra mudar o mundo, e que eu não era apenas uma pedra no tabuleiro, mais um passe. Durante o preliminares cheguei a mandar inbox pro pablo, falando sobre a ideia da casa no alemao, que eu queria contribuir etc. Eu realmente acreditava na proposta. O Premilimares acabou e não demorou muito e eu voltei de novo para SP convidada para o encontro do PAN - Ponto de Articulação Nacional, que é um encontro do núcleo duro, os que estão mais envolvido no movimento. Até hj confesso que não entendo muito bem.. No começo eu não entendi muito bem porque ia ser chamada, já que tinha chegado na rede a pouco tempo, depois pensei que era por causa da ideia da casa no alemão e que a galera podia ter gostado da ideia. Durante o PAN o Pablo me chamou para conversar falou que seria realmente importante ter uma casa na favela, já que reforçaria a ideia do movimento a lutar por um mundo melhor e etc, e que quando eles fossem falar da periferia ninguém iria atacar eles, já que dessa vez eles seriam um movimento de dentro, mostrando que realmente ta ali para contribuir etc, e mostrar que no fde não tem só galera de classe média. Ele falou para eu chamar as algumas pessoas do rio que fosse participar da equipe da casa lá na favela para ter uma vivência e ficou marcado que a noite, no encerramento do PAN ele daria a notícia para geral. O que acabou não acontecendo porque ele não foi na reunião. Eu fiquei feliz porque parecia que a casa de fato ia rolar ( e eu achava que seria algo bom para a favela) mas ao mesmo tempo eu sentia um aperto no coração que eu não sabia explicar porque. Eu voltei para o Rio, e ele não veio mais falar comigo sobre o assunto. Pensei que ele esperava que organizasse tudo aqui e depois falasse para ele. Então fui conversar com o coletivo que faço parte o ocupa alemão e falar da ideia mais uma vez. Algumas pessoas curtiram, outras achavam muito imprevisível, a gente se jogar em algo, sair do emprego, e depois se não desse certo como que ia ser? Já que na favela é diferente, a gente tem que pagar conta e não tem pai pra pagar. E mesmo eu não tendo nascido no alemão, mais na periferia de Brasília, sabia como era aquilo de perto e que não ia rolar da minha mãe ficar me sustentando. Mas reforcei com a galera que valia a pena se arriscar. Então resolvemos tentar.. Falei pro pablo que ia rolar mesmo, que a gente já tava vendo casa, etc.. Mas ele não respondia direito, não sabia se eles iam ajudar, se a gente ia participar do caixa coletivo, se iam anunciar que a gente era uma casa fde... Várias respostas não eram dadas e eu ficava angustiada. Nesse meio tempo de angustia sem saber o que ia ser. Teve um encontro e eu fui para SP, o pablo que chamou novamente para conversar e disse que achava a ideia da casa legal, mas que não era estratégico ter uma casa do fora do eixo nesse momento na favela. Ja que a marca poderia afastar as pessoas e que era melhor uma coisa que agregasse todo mundo junto. E que ao ver dele o que mais combinava com o Rio era a UNICULT Universidade das culturais e que poderia dialogar entre todos os movimentos da periferia. Juntar as tecnologias de todos esses caras, jailson, faustini, junior e etc.. num só lugar.Segundo ele, eles não sabiam dialogar entre si e que o fde era uma grande ponte de diálogo entre esses movimentos. A gente ficou "conversando" uma hora, ele falando falando, e do jeito que ele falava tudo parecia fazer tão sentindo, um movimento que todo mundo iria participar. Que ele me fez acreditar que eu também tinha achado que aquilo era a melhor opção e que tinha sido decidido naquela hora. Sendo que já tava tudo planejando e eu era só uma peça sendo mexida para que os planos deles dessem certo. Sai de lá ja com data do encontro na UNICULT no Rio marcado, com o arte grafica já pronta e tinha me responsabilizado a contribuir na articulação da unicult no RIO. A unicult no Rio casou com o mesmo período em que um grupo do fde viria para o RIO dá curso de cobertura colaborativa organizado pela ESPOCC, uma ideia que eu tinha dado e argumentado que era importante. E as pessoas se dividiriam entre a minha casa, a casa de uma amiga e do cordenador na ESPOCC (mais acabaram não ficando na ultima casa). E grande parte das pessoas ficaram na minha casa. ... 3 round Como diz a sabedoria popular, quer conhecer alguém come um quilo de sal com ela. Chegaram na minha casa felizes e contestes e me disseram que toda vez que estão em um lugar eles dão um nome para aquele período de vivência sempre chamado MISSÃO .... Me perguntaram que missão poderia ser aquela que nome tinha haver com a favela, quais eram os signos daqui e etc... ( eu simplesmente burra, inocente e idiota), ajudando em tudo. Na hora eu falei missão lek mais eles falaram que talvez o faustini não fosse gostar e etc.. Então ficou decidido que nas aulas na espocc seria feito em conjunto com os alunos a decisão de que missão seria essa. A primeira oficina na Maré durou uns três dias (acho) e no último foi apresentado a ideia de um exercício prático na oficina de cobertura em que a galera iria decidir o nome da missao que mais representava eles e a juventude de favela e durante a estadia do curso no rio, todos os textos e fotos que fossem produzidos a galera mandaria para o MIssão (alguma coisa) e postaria na página da espocc como um treino. Então teve uma chuva de ideias todo mundo falando o que representava a juventude, a favela, dando nomes, cores, cheiros, signos, .. E ficou decidido que o nome seria MISSÃO ZONA já que os meninos disseram que circulavam pela cidade e que todas as zonas de alguma forma se entrelaçavam. No intervalo do exercicio algumas pessoas me perguntaram se eles não estariam fazendo pesquisa de graça as nossas custas etc. Mas eu defendi que era só um exercicio. Depois de um dia tomou uma proporção enorme, já tinha cadastrado todo os contados dos participantes das oficinas, todo dia geravam o conteudo da missao ZONA só aparecia isso na página da ESPOCC e depois eles queriam já fazer uma página no face como se fosse um projeto, um movimento ou um coletivo, ( mais aí eu comecei a me ligar e disse não!), depois as coisa foi andando tão rápido (2.0 como eles são ), que de um exercicio já era um projeto que eles queriam apresentar na UNICULT, que acabou não indo para frente porque eu disse claramente que não tava entendendo aquele insistência em criar um projeto sendo que eles falaram que era só um exercício. Junto com isso as meninas na minha casa todo dia queriam fazer um programa popular. Na primeira vez que saimos para um programa "perifa" percebi que não era por vontade ou interesse, até curiosidade, era só para tirar foto e mostrar publicizar aquilo e mostrar que de alguma forma era ( do povo, da galera, eram favela tb, etc, marketing pessoal). Fomos pro baile no alemao, e ficaram insistindo para mim pedir pro Rene Silva tirar uma foto e dizer que estavam com elas, com os membros do fora do eixo, depois queriam que eu marcasse um encontro uma saída, com pessoas legais que eu conhecesse etc.. (bla bla). Num breve surto eu cai nisso, depois eu percebi que aquilo não estava certo, que não era verdadeiro. Fomos com o Wava para a Rocinha mais uma foto, piscinão de ramos fotos, andar de onibus foto, e eu ia indo pra tudo, prestando atenção em cada detalhe, pra ver se eu não tava ficando louca, se aquilo ela realmente verdade até não aguentar mais perceber que todas as relações não se tratava de afetividade de fato, mais era tudo marketing pessoal, contato, net working, fazer redes etc. E que eles não gostavam de mim, eu era só uma peça do jogo. Paralelo as nossas saídas durante o dia, a noite tinha unicult, depois os jantares com o nucleo fora do eixo, representantes da eco, os jantares sempre caros, a verba sempre paga pela UNICULT, um projeto que mal tinha começado e já tinha verba pra bancar jantares e jantares, as conversas eram sempre "olha agora que a galera da perifa viu que voces foram no piscinão de ramos, vou ver que vocês são legais.." etc,.. eu não acreditava que eu tava escutando aquilo. Fora que sempre tinha alguma risadinha ou piada com alguma ongs ou projeto da favela (que eles mesmo se diziam parceiros ) mas que não exitavam em falar "fulando de tal acha que detem a ideia da periferia, etc"e riam e riam .. uma semana interminável para mim, enojada com aquilo tudo, sem querer mais ver a cara daquelas pessoas, e contando os dias para chegar o ultimo dia da oficina e tudo acabar, me segurando para não explodir. E quando eles foram embora, mandei um inbox pro Pablo. Pensei em falar mil coisas, mais tudo que eu falasse ele teria todos os argumentos do mundo, não queria criar briga e nem mal estar, pensei em sair de mansinho. Até porque eu tinha percebido que eles não se importavam de fato comigo ou queriam ser meus amigos, eu só fazia parte do jogo de fazer o o FDE ter uma atuação mais forte no Rio de Janeiro. Então só falei o que tinha forças na época para dizer: "Pablo, eu aprendi e aprendo muito com vocês. Vocês sempre me receberam muito bem e eu agradeço isso. Quando as meninas estavam aqui eu procurei retribuir um pouco desse carinho.Toda a estrutura funcional de vocês é muita eficiente. E acredito que hoje no Brasil vocês são um movimento ímpar.No momento, eu estou ligada afetivamente a outros coletivos aqui no Rio. E nesse momento eu estou me identificando mais com outras formas de trabalho que não se integram no primeiro momento com a forma de trabalho do movimento.Não tô fechando a porta ou 'cuspindo no prato que comi'. Só estou optando a trilhar outras formas de contribuir para esse novo mundo possível. E já que estamos lutando pela mesma causa, vamos estar inevitavelmente no mesmo caminhar. ele: ok bjs 1:10 ele: Incrivel é vc resumir o que nós somos em "estrutura funcional eficiente", se me permite, não entendeu nada, mas cada um com suas conclusões. Boa sorte! Valeu! e nunca mais nos falamos... .... 4 round Não tenho raiva do Pablo ( os dos outros integrantes do núcleo duro), nem acho que ele seja um monstro, eu até criei um carinho por ele, achava ele uma das pessoas mais inteligentes que conheci, mais não vejo muito afeto nos olhos dele. Uma das coisas que me preocupa, não só no FDE, mais em outros movimentos que possam estar reproduzindo isso, é capitalizar TUDO ate o afeto. Tudo é contato, tudo é rede, tudo é net working, nada é de fato amizade e sinceridade. Tudo são simulacros.. Pra mim essa história teve acima de tudo uma reflexão pessoal, o meu lugar no mundo e o tipo de coisa que quero construir e as pessoas que quero perto. Sigo acreditando num mundo melhor, menos desigual, mas acredito nas ferramentas do amor e do fazer junto em sinceridade para essa construção. se compadecer de fato pela dor do outro e não publicizar a dor do outro pra ganhar em cima. Não acredito nas ações que sejam feitas ( isso vale pra qualquer um , inclusive eu), em cima da vaidade, da sede de poder, em sugar o recursos em nome de uma mudança social, e se relacionar com outros somente por negócios sempre. enfim Tudo é vaidade , tudo é vaidade. Retirado de https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10201717354796779&set=a.2713524438470.2147062.1267706558&type=1&theater em 10 de agosto de 2013