Caros, ontem o Capilé (o coordenador, idealizador, dono, não exatamente que termo usar, afinal, apesar da suposta horizontalidade, é ele quem fala em nome de um contingente bem grande de pessoas) decidiu falar depois da entrevista ao Roda Viva. Hoje o Fde lançou o portal Transparência (mania de mega) e li uma carta aberta. Sabe o que dizem: nada. Muitas coisas são jogadas como argumentos polarizantes da crítica: seita religiosa, trabalho escravo etc. Exemplos extremos para construir uma distorção da verdade. Mas, o marketing do Mc Donalds, da Coca-Cola e dos cartões de crédito é crime? E o marketing de rede? Tudo isso é crime? Não. São práticas capitalistas aceitas e que se valem de vários tipos de estratégia de abdução do cliente. Só que, pelo menos, se assumem. Agora, você recrutar jovens (entre 17 e 30 anos) com toda sede de trabalho (e inexperiência) que geralmente estão num mercado competitivo (ansiosos por vagas), e faze-los trabalhar num ambiente precário (onde tudo, repito, tudo é vagamente definido) através de argumentos persuasivos baseados fundamentalmente numa linha agressiva de comunicação indutiva é crime? Não. Mas é capitalismo distorcido. É a reconfiguração de práticas que muitos abominam. E será que isso pode ser chamado "alternativo"? Será que isso contém algo de novo ou é fazer os outros de bobo e ainda ganhar fama de inovador. Quantas figuras públicas do FdE você conhece? Isso é a nova sociedade que pretendemos? Pior, que tipo de serviço presta a uma série de outros movimentos que se constituem seriamente e dispostos a um debate franco com a sociedade e uma mudança verdadeira? Pois é, acho que todos nós devemos refletir sobre isso. O que eles chamam de balanço (e eu chamo de release), é um documento sem vazio onde eles declaram que em 2011 foram investidos R$ 84 milhões em cultura brasileira. Esse valor é furado, mas, ainda assim, gostaria de saber quanto desse montante foi descontado de imposto (como todos, que criticamos o capitalismo e tentamos de alguma produzir alguma coisa diferente) e, ainda assim, pagamos imposto. O que os faz diferentes e toleráveis? Novamente, tentando evitar uma opinião pessoal, eu destaco o que acho que não foi respondido: 1) tanto se critica o jornalismo tradicional (ao qual não faço parte) e suas práticas viciadas, políticas e comerciais. Os dois entrevistadores (Revista Fórum e Outras Palavras) são, no mínimo, parceiros do entrevistado. Num clima descontraído se conversou sobre o FdE e não se questionou o FdE. Capilé encheu-se de si e não gosta muito de prestar contas. É arrogante. Mas, até aí, isso é política. Jogo cênico. Mas, é fácil você encontrar artigos defendendo o grupo e, mais, fotos (entre elas a foto do Zé Dirceu na casa Fora do Eixo). Também possível ver comentários dos entrevistadores sobre participação em eventos e festas. Portanto isso não foi, de nenhuma forma, jornalismo. Foi um papo entre amigos, parceiros de "negócios". Para quem discute jornalismo é bastante curioso perceber que práticas como essa são entendidas como crítica ao sistema hegemônio o que, definitivamente, não são. 2) em nenhum momento você obtém uma explicação clara de vários fenômenos que, por certo, constituem a grande reclamação das pessoas: a) precarização das relações de trabalho (vivência), b) apropriação de verba pública em um esquema que se auto-afirma praticar sonegação de imposto, c) horizontalidade versus "lastro", d) relações políticas definidas (e não heterogênas, como se faz parecer), e) práticas competitivas de mercado, no mínimo antiéticas em relação as demais empresas, f)utilização de uma linguagem que mescla formal e informal para um vazio conceitual e uma indefinição de seus produtos e serviços. a) precarização das relações trabalhistas: ao contrário de um (ou dois) depoimentos, existem dezenas de depoimentos que versam sobre a precariedade das relações trabalhistas. Em primeiro lugar, as vivências são cobradas do colaborador (em moeda própria) e pagas atráves de trabalho (voluntário) com dedicação exclusiva aos projetos FdE. Além disso, neste caso, não fica indicado o que você realmente adquire ao se propor a uma vivência (trabalho) desenvolvido pelo grupo. Por exemplo: que tipo de hospedagem que você tem direito? qual o número de horas dedicadas ao projeto? qual o tipo de alimentação? Entretanto, no edital fica claro que você terá, em suas vivências, alguém que acompanhará o seu trabalho que, repito, será dedicado às vivências (não fica claro o que são "cursos"+"treinamento"+"trabalho voluntário", por exemplo. Algumas vivências resumem-se a trabalhos especifico com seleção prévia. É curioso ver que as vivências geralmente são oferecidas durante os eventos produzidos pelo grupo; um detalhe: nenhum dos trabalhos que você produz será assinado (coisa que o líder do grupo admite que estão revendo) então, além de tudo, sem trabalho é anônimo; b) nos editais público ao qual participa o FdE apresenta uma planilha com equipe (onde são alocados custos). Isto está nos editais. Agora, a pergunta é: se basicamente o trabalho é voluntário para onde vai essa verba que se diz para os gastos com equipe? Além disso, com inúmeros CNPJ, como saber que o dinheiro circulante é gasto no empreendimento e não articulado a partir de uma série de microempresas de onde se realiza uma contabilidade para diluir custos? c) um conceito interessante e desenvolvido pelo FdE e que é completar a vivência é o conceito de lastro. Isto é, você precisa ter uma experiência de casa (estabelecida por critérios absolutamente imprecisos) para poder participar das decisões. Antes disso, você cumpre ordens que são determinadas por uma entidade maior e abstrata (como tudo). O lastro - em outras terminologias - é o tempo que você dedica a eles sem argumentar nada, participando de vivências que são geradores de recursos para o geral. Das dezenas de depoimentos que existem na rede (e o próprio grupo assume a quantidade de horas empregadas em trabalho) que simplesmente geram recurso para a casa. Ora, uma experiência de coletividade produtiva devia gerar justamente o contrário, isto é, menos tempo em trabalho e mais tempo para desenvolver conceitos, lazeres, arte etc. Ou seja, você entra para uma linha de montagem só que sai da lógica de produzir mais-valia para um e produz mais-valia para um coletivo ao qual você só terá direito de participar efetivamente do processo decisório depois de ter lastro. Se antes disso você cansar tudo o que você fez é patrimônio de quem fica. Além do mais que esquema horizontal é esse que tem um representante que circula nacionalmente pelos lugares, viaja para fora do país e aparece na TV o tempo todo? Qual foi o processo de participação/representação instaurado pelo FdE? Em nenhum momento se lê depoimentos dos outros líderes e de colaboradores em vivências, por exemplo. Nada, institucionalmente o sistema é hierarquizado ao extremos. d) o posicionamento político do FdE fica claro nas conexões e na sua rede de apoiadores. Existem documentos apontando para um relação direta com o PT, por exemplo. O que, em princípio, não tem nenhum problema. O fato é: será que todos os voluntários e colaboradores concordam com isso? Será que as pessoas sabem das conexões e relações com líderes Petistas, por exemplo. Será que a articulação com UJS, por exemplo, que lançou carta-apoio, foi votada pela maioria dos integrantes do FdE? e)Se você é um produtor em uma das cidades onde o FdE atua, a competição é, no mínimo, desleal. Imagine que você, com sua empresa convencional (pagando salários bacanas para os seus colaboradores), apoiando músicos e pagando cachê, como competir com um grupo que trabalha com mão-de-obra voluntária, grana do governo e sonegação de imposto? Como competir com um grupo que usa o sem próprio tamanho (e dos seus eventos) como argumento para pagar salários menores para os artistas? Um grupo que é capaz de misturar coisas diversas para conseguir arrecadar mais público? Não é proibido ter êxito, mas a que preço? Como ficam todos os caras que jogam na economia formal, pagam impostos (altíssimos), captam recursos do governo a partir de esquemas convencionais para, no final das contas, levar rasteira dos grandes produtos e, também, de grupos alternativos como FdE? f) Tudo no FdE é ambiguo. A mistura de linguagem formal: vivências, edital, manuais de procedimento - como é o caso da Pós-TV (isso mesmo, manual da mídia Ninja) -, portal Transparência etc. Um conjunto de expressões que não dizem nada no ambiente que se constituem. Na verdade, não querem que digamr absolutamente nada. Mas intimidam. Vazias de sentido, exceto o trabalho real que os colaboradores desenvolvem, valorização de suas "marcas" (marketing share) a verdadeira gana do grupo. Marcas para todo lado: universidade, partido político, Mídia Ninja, Cubo Cards, Cartão FdE, Banco FdE, Eventos FdE, Festival Grito do Rock, Seda etc.Tudo devidamente articulado para uma compreensão que atinja apenas o nível de persuasão de seus colaboradores. A mesma coisa pode ser dita dos Cards onde a cotação da moeda FdE nunca fica clara. Por exemplo: se uma vivência custa 5 mil cubo cards qual o seu valor em real? Nada disso é claro. Aliás, a ideia é transformar isso numa coisa absurdamente abstrata e trabalhar dentro disso ferramentas de poder. Aí, o Capilé enche a boca para falar de transparência, de balanço etc. Mas, balanço é algo real, comprovado... olha, nesse caso beira o ridículo. Balanço não é uma ferramenta de marketing para iludir otários. Não é uma coisa que você usa para fazer mais propaganda. retirado de https://www.facebook.com/marco.ribeiro.399826/posts/10151826082673638 em 12 de agosto de 2013 ++++ em função de textos que surgiram por aí, compartilho minhas dúvidas com este grupo que tem mantido um debate bacana sobre o assunto. O zero como retórica (o vazio como prática). Olha, o assunto tá chato e, de certa forma, esse é o objetivo do grupo (eficiente, aliás): tentar tirar o foco das coisas que têm valor informativo e deixar a coisa se afogar em chatice. Então, para não fazer o jogo, vale insistir. Vale ser chato mesmo. A maioria das pessoas que eu li não levantou em nenhum momento questões pessoais e nem foram realizadas grandes pesquisas (investigações jornalística de fato) sobre o FdE (que não é, nem de longe, um movimento social representativo no Brasil). Entretanto, a organização ganhou visibilidade midiática, projetou-se como fenômeno e vocalizando sobre si mesmo todo o tipo de mérito. Obviamente, todo mundo quis conhecer essa novidade. E, alguns de nós, tem a estranha mania de perguntar as coisas: para que serve isso? Quanto custa isso? Como é feito o processo? (Esse negócio de cala a boca já tem dono: os zumbis já protagonizam). Como, afinal, não se interessar por números fantásticos (absolutamente sem comprovação real, documentos, nem nada - o mundo pós-tudo é feito de versos e cubo-cards). Eu sei que isso é muito rancoroso, mas, sei lá, eu gosto de perguntar: para onde vamos? Números nada pequenos "os números mudam bastante, aliás...esse são os últimos: 18 Casas, 91 Coletivos e 650 coletivos Parceiros. Eventos como o festival Grito Rock foram realizados de forma integrada em mais de 200 cidades de todo o mundo e a Rede Brasil de Festivais tem mais de 130 eventos em todo o país". No site diz ORG, mas já se sabe da existência de vários CNPJ articulados estrategicamente disputar "grana" disponível. Então é simples, o eu gostaria saber: o Fora do Eixo é uma empresa? Qual é o faturamento (receitas em real) do FdE? Quanto (em reais) o governo investiu nos últimos anos? Se, afinal, é para ser um modelo diferente, isso não era para ser um problema. Ou é? Pq, aí, não vinham despejar essa mega-pose na nossa cara. Alguns argumentos: Se existem pessoas que topam trabalhar de graça (ou melhor em troca de "estar lá" por casa, comida etc) por 12 horas (coisa que lastimo demais) isso não é necessariamente ilegal. Se alguém consegue convencer um cara jogar as muletas no chão pelo fato de,supostamente, dizer ser capaz de produzir milagres, então, sei lá, acho que alguém pode trabalhar de graça em troca de algum objetivo ideológico qualquer. O problema é outro. Que nome se dá quando um monte de empresas se juntam (nesse caso, em condições precárias de trabalho etc) para monopolizar o mercado? Truste. Mas, até isso é tolerável. Quer dizer, é uma prática que acho terrível, mas.... um monte de gente faz isso também. O problema é chamarem isso de pontoORG. Não é. É pontoCOM. Na minha opinião, é uma empresa de show e eventos que, como constituiu um certo poder, o usa como moeda/poder em todo tipo de relação de parceria. É empresa. Ouçam a entrevista do Capilé ensinando as bandas a "agradarem o produtor, o jornalista, os fãs". Dá dicas, literalmente, de como criar produtos - camiseta, CD etc. "Não basta ser só músico, mas precisa fazer a gestão de carreira". E, sei lá, não concordo com a filosofia, mas ele não está errado: o jogo capitalista é esse mesmo. Capitalista selvagem, diga-se de passagem. É um monte de empresas cooperadas fazendo pressão nos menores. É empresa. Então use notas-fiscais, contrate funcionários, criem suas franquias e, dentro das regras do próprio sistema, paguem impostos. Eu não acho que vocês precisem de informalidade. São milhões de reais dito por vocês. Isso é para aquela pessoa precarizada que sustenta a família com o trabalho. No seu caso, de nenhuma forma, acho que deve ser perdoada a informalidade. É um grupo de empresas especializada em "Marketing de eventos". Ou, sei lá, quem sabe vocês viram uma cooperativa onde uma parte das pessoas opta em trabalhar de graça em troca de estar "no meio". Nesse caso, o poder persuasivo do grupo, de fato, é surpreendente. O dia que tudo isso for uma empresa, os balanços terão despesas, receita, lucro. Aliás, no Brasil tem imposto (e cadeia pra quem sonega). Ainda mais com faturamento de milhões, né? Sobre o Cubocards, acho o seguinte: se é moeda interna experimental, quando você sai da própria alienação, você precisa falar em reais - que é a moeda que se usa no Brasil. Aliás, parece mesmo que o FdE tem o projeto de ser um esquema à parte. Por enquanto, na sociedade brasileira, a moeda é o real mesmo. Então, se é para divulgar números para a sociedade, eles precisam na nossa moeda. Internamente, se as pessoas topam receber em cubocards, aí é com elas. Aí, também, as pessoas saberão que estão trabalhando de graça para uma empresa capitalista. Não é pontoORG é pontoCOM. Sem mais discursos coletivos vazios! Nesse caso a disputa é minimamente honesta com outros produtores de eventos, gente que trabalha sozinho (ou cooperativado), paga secretária, assessor, músicos, técnicos. Se os produtores são as melhores pessoas do mundo? Não sei, mas, pelo menos, eu prefiro os que jogam de forma limpa. Política (análise simples e preliminar, sem entrar na intimidade do processo que, com certeza, virá com tudo que está sendo falado). Mesmo com fotos com o Zé Dirceu e a tropa, com PSDB e convidados, o discurso é: somos a favor de tudo. Cruzes, por favor, será que todos os participantes do FdE concordam com isso? Só vi um (ou dois) manifestando-se em auto-defesa. Nunca vi ninguém dizendo: sou contra esse modelo político! Sou contra esse aspecto do FdE. Nunca vi alguém criticando nada. Ah, entendi, vocês só falam entre si. Duas mil pessoas que concordam entre si. Uau! Devo dizer que, para mim, coletividade gera tensão, aliás, a democracia gera tensão. A democracia participativa - que não conheço pessoalmente - deve ser terrível. No FdE só duas ou três pessoas falam. Mas eu entendo: manter as pessoas no eixo exige mesmo verticalidade. Exige regra. O que eu não entendo é que todo mundo concorde com isso. E olha que as pessoas andam por aí criticando o sistema... Mas, ali, predomina o "debate interno" e não deixar nada "vazar" para o público. legal. Eu JAMAIS faria parte de uma organização que se sente livre para negociar tudo e todos. É relativizar demais. Ainda mais com esses caras. E, se é assim, tem que receber o Maluf, o ACM Neto etc. Pluralidade é isso. Jamais! Mas, então, assumam! Assumam que "Fora Dilma!" é só um esquemão para vender imagem para TV Ninja e sair na Globo. Assumam que o governo investe milhões em projetos FdE (e, como se não bastasse, ainda captam grana em Crowdfunding ). Será que as pessoas sabem que onde gastam? Duvido. Por um único motivo: não existem informações reais. A forma como o FdE faz política tá ficando cada vez mais clara. Uma coisa deve ser dita: o governo é muito bacana com o FdE! não tenho o menor interesse no FdE em si. Achava até legal antes da entrevista ter um grupo assim. Embora, sinceramente, não o entendesse. Esse negócio de vivência, de lastro etc... tudo isso é muito manjado. O século XX teve muitos grupos assim. Acho que portas fechadas só servem para gerar mofo. o resto... olha, como nada vai ser dito, nem vamos falar aqui da Universidade, Partido Político etc. Provavelmente o PFdE, num futuro não muito longe, vai se aliar com Dilma e com Alkmin - afinal, já são parceiros em outros negócios. Já mandaram 70 perguntas para o Capilé, sabe quantas ele respondeu? Nenhuma. Respondeu com um negócio vergonhoso (para quem lida com informação) que se chama portal Transparência. Publicado em https://www.facebook.com/groups/Universidadenomade/permalink/561294590605087/ no dia 16 de agosto de 2013