O fundador do Fora do Eixo fez um post com diversas opiniões (de outras pessoas) sobre a polêmica com o grupo, principalmente após uma carta da cineasta Beatriz Seigner. Eu li todos e comentei, de forma construtiva. Aí o post foi apagado sem explicações (porém republicado aqui: http://piratepad.net/face-capile, agradeço ao Victor Paschoal) Eu reproduzo, então, o meu comentário, na condição de produtor cultural que deseja ampliar o debate. (e adianto que um blog de extrema direita se aproveitar deste debate não muda em nada o bom debate): "Eu li todos e honestamente não vejo qualquer diálogo. Muito menos uma simples resposta a questões objetivas (exceto uma genérica no relato 10). Parece um acirrado clássico de futebol isso. Seria interessante pensar num processo de abertura maior, em vez desta reação enquanto grupo fechado e reativo. Em resumo, o que consegui reunir, que me deixou com ainda mais dúvidas (que coloco em seguida): Relato 01: Desafio de morar em coletivo, trajetória pessoal, trabalhar muito é bom. Relato 02: Desafio de morar em coletivo, trajetória pessoal, realização profissional, dinheiro não é tudo, trabalhar muito é bom, ataques contra a pessoa de Beatriz representando o "racismo cultural". Relato 03: Desafio de morar em coletivo, trajetória pessoal, realização pessoal, possibilidade de viajar, acusa críticos de "monte de gato-pingado que nunca vi na vida", sei cuidar da minha vida, rede é melhor do que salário. Relato 04: Grupo só faz sucesso porque está fora do eixo e organizado, o grupo promove gente excluída do sistema, "Quero falar muito mais sobre isso. Muito. Mas agora preciso trabalhar". Relato 05: Trajetória pessoal, sucesso profissional, FdE "não era uma simples “proposta de trabalho", melhoria de seu conhecimento sobre "ideologia do compartilhamento", ataque a Beatriz. Relato 06: Ataque a Beatriz, "não consegue perceber a descentralização intríseca a um processo totalmente colaborativo", ataque a Beatriz, trabalhar muito é bom desde que seja independente, críticas à suposta falta de consumo cultural dos membros do FdE, "Sim, trabalhamos muito mesmo", ataque a Beatriz, convite para reunião. Relato 07: FdE "maximizou recursos coletivamente", luta de classes é "visão simplificada ao qual o FdE opõe "a organização coletiva de gente que simplesmente não quer jogar o jogo do dinheiro", é "um novo tipo de família", ataques ao FdE é do status quo, opõe o FdE a sindicatos e partidos (duas vezes), elogio a Capilé, FdE não ganha tanto dinheiro assim, é "apropriação coletiva da mais-valia", o coletivo não elimina individualidades, a mídia Ninja não "pertence a ninguém em particular porque é comum a todos", o FdE está sendo "linchado" em uma "guerra de memes", pagando o "preço por existir". Relato 08: Trajetória pessoal, FdE se opõe à concorrência do mercado, projetos do FdE são "primeiro laboratório de metodologias de produção", pediu maior diálogo, é preciso esclarecer "mitos que o trabalho coletivo gera". Relato 09: relato profissional, experiência com o FdE, processo de colaboração do coletivo, relato profissional do coletivo, trabalho do FdE no interior é importante, "Ser duto é militância", "Altruísmo e corrupção não combinam muito", "não se trata de dinheiro mas de construir percursos e trajetórias". Relato 10: Rebateu críticas da Beatriz e desmentiu crítica sobre falta de pagamento, FdE é pacto social alternativo, casas coletivas são resultado de decisão de "investir recursos e tempo integral em busca de acelerar o experimento", discussão teórica sobre desmonetarização e rizoma, investimento no coletivo é "contra-fluxo" do que existe hoje estruturalmente, quanto mais dá certo "mais “inimigos” ou “anti-semitas” surgem querendo descobrir onde estão seus pontos fracos", "As ações se financiam por que partem do estímulo e não do orçamento. O Fora do Eixo parte da ação pra produção e não o contrário", FdE é um "grande crowndfounding de recursos", ataque a Beatriz ("texto xulo"), FdE não é trabalho escravo e sim "pacto social/coletivo", "quem ainda acha que nos colocamos como escravos e nos explorando é por que trabalhamos mais do que esse tipo de pessoa", experiência profissional/pessoal. Relato 11: Experiência pessoal, "Não somos escravos. Somos realizadores de sonhos coletivos! Somos todos protagonistas. E nossa maior riqueza é a vida", críticas às críticas sobre o novo modo de vida. Relatório 12: Crítica "às pessoas" (de forma genérica), discussão da verdade, discussão conceitual sobre o coletivo, experiência no FdE, função prioritária da universidade era "me formar pra sobreviver" e "No Cubo [projeto do FdE] eu sobrevivia me formando, o que me fazia muito mais sentido", processo dentro da casa, processo de produção, discussão da arte, discussão sobre cachê (sem discutir as acusações justamente sobre isso), ataques genéricos a pessoas que não entendem o que são relações sociais, discussão sobre dinheiro e ataques a Beatriz, afirma que a rede é transparente sim bastando pesquisar, discussão sobre dinheiro e o "CARD", "Nosso maior e mais valoroso ativo mesmo, é os recursos humanos", diz que "a mídia ninja que foi a única a trazer realidades da PM (governo)". Relato 13: Trajetória do grupo (contexto), discussão sobre desmonetização e o coletivo, críticas ao desprezo pela nova moeda do FdE, o Card é moeda complementar mas para o FdE é muito mais que isso, o FdE não é o mais importante e sim a noção de "pós marca", a política é importante para o grupo, "Pablo Capilé é uma grande liderança da nossa geração", precisamos unir esforços, "Críticas são sempre muito bem vindas. Mas que sejam feitas com o respeito que merecemos". Relato 14: Rebate "acusações muito sérias", trajetória pessoal/profissional, discussão da casa e do sistema do FdE, "Qualquer pessoa que acuse o Fora do Eixo de manter escravos, é no mínimo conivente e conformado com o egoísmo extremo que deixa tantas chagas na nossa sociedade", afirma que "se enquadrar no sistema é ter um emprego para contar com a garantia do salário", o coletivo é o mais importante e uma grande experiência, ataque pessoal a Beatriz. Relato 15: Ataque pessoal a Beatriz, trajetória pessoal, trajetória profissional, experiência do coletivo que "é uma construção", experiência pessoal. Relato 16: (indisponível) * * * Na minha ignorância, as dúvidas: 1. Se for assalariado, não tem como se integrar? Porque é a realidade da maioria da população. 2. O grupo não interage com outros agrupamentos? Quer dizer, qual a interlocução com quem já está há décadas (por vezes) em outros movimentos (incluindo sindicatos, partidos etc.)? 3. Não há qualquer relação jurídica? Contrato, documento nenhum? Não seria um estímulo à precarização? 4. Qual o papel do Capilé, se a estrutura é totalmente horizontal? Os relatos variam na interpretação. 5. A questão sobre capitalizar não me parece respondida, há denúncias de pagamento de cachê pipocando que não foram respondidas e que contradizem os depoimentos dos membros do FdE. 6. Frases citadas textualmente não foram rebatidas. 7. Uma questão colocada é que deveria haver transparência na redistribuição interna dos recursos (e não apenas na transparência pública, o que é lei), isso não foi comentado em nenhum momento. 8. Questão sobre a seita ou trabalho escravo foram amplamente discutidas nas postagens e me parecem opiniões divergentes, sobre o que li ficaram claras as diferenças de concepção. Tudo bem. 9. A questão da autoria é um debate, antigo aliás. Vi só uma ou duas pessoas comentarem isso. 10. A questão dos direitos sociais (de previdência, por exemplo) é outro debate, normal. Absurdo é desqualificar uma opinião. É direito de todos querer ter direitos constitucionais. Pode inclusive pegar uma parte da renda e botar no INSS, que é uma instituição pública pertencente a todos nós, o povo. Mesmo sem carteira assinada. (Aliás, fica a questão: como a pessoa se aposenta? Todos nós ficaremos improdutivos um dia, e depois dos 30 fica difícil trabalhar 7 dias por semana) 11. Entendo perfeitamente a denúncia de que estão capitalizando um coletivo para arrecadar dinheiro público. Em quatro anos no campo, já vi isso acontecer bastante. Acho que deveria ter resposta e, de novo, não teve. A inclusão de "Realização: Fora do Eixo" da forma que foi colocada é inclusive um problema ético, gostaria de ver uma resposta a isso. 12. Caso Favela do Moinho e outros casos específicos: ninguém comentou. 13. Creio que o fato de o texto da Beatriz ter sido divulgado cerca de 3.700 vezes em tão pouco tempo mereça, por parte de seus coordenadores, um pouco mais de atenção. E espero que a resposta não sejam mais ataques pessoais, como tenho visto e que estão registrados neste resumo acima. Meu objetivo é ampliar o debate, estão colocadas as questões. Retirado de https://www.facebook.com/gustavobarretorj/posts/696497257030370 em 8 de agosto de 2013