Pessoal Preciso re-postar o texto que pindurei no meu Facebook uma hora atrás porque os links incluidos atrapalharam o compartilhamento. Eis aqui de novo. Faz tempo que tenho intenção de escrever algo sobre a minha experiência com FDE. O texto da Beatriz Segnier - que podem achar no facebook dela em beatriz.singer - e as muitas respostas, servem como ocasião para algumas breves reflexões. Em primeiro lugar, devo dizer que conheci a Pablo, Marielle e Carol em 2010 a partir de um encontro na casa da Lala Deheinzelin. Estava com minha esposa Sylvie Durán, ativista da cultura horizontal, comunitária sobre tudo nesses lugares onde os recursos são difíceis de conseguir, como na América Central, o território ao qual se dedica. Conhecer FDE foi uma grande descuberta e nos animou a procurar colaborar com eles para nos adjudarem promover esse tipo de desenvolvimento em toda América Central, que é o fora do eixo do fora do eixo. Sylvie e os colaboradores centro-americanos levarm o Pablo, Felipe e Caio Tendolini (quando ainda participava da “cúpula”) a várias cidades no Istmo e se estabeleceu uma troca. Nós fomos convidados às atividades em Fortaleza, BH, São Carlos e Sampa e eles viram para cá. Tudo parecia jóia até quando Pablo e cia puseram a marca Grito Rock aos concertos organizados na América Central, muitos deles que já existiam e tinham seu próprio nome. Sylvie confrontou o Pablo e ele ameaçou, semelhantemente ao que diz Beatriz Segnier respeito a outras pessoas que sofreram essas reações. Logo, quando nós estávamos trabalhando conjuntamente com muitas redes latino-americanas num financiamento para encontros e projetos futuros de redes (como o que se está celebrando no momento em Cusco – confiram no site de encuentrocultura.pe/2013/programa/invitados-internacioanles para ver a lista de pessoas do FDE ou vinculadas a FDE) houve um Putsch por parte do FDE e seus aliados e vários das redes e coletivos latino-americanos ficamos fora. FDE e seus aliados propuseram que eles gerenciaraim os fundos. Se supunha que todas as redes colaborariam na programação mas soubemos que eles se reuniram sem nós para planejar a sua estratégia de controlar o processo. Nos serrotaram o chão. Uma das razões pelas quais eu não escrevi nada antes é que sei que quem critica se expõe a ser classificado como ressentido, ególatra e outras caraterizações negativas. E como FDE consiste em um exército de comunicação, é muito difícil fazer declarações sem um milhão de respostas desqualificadoras. Preferi esperar até poder pesquisar mais para escrever um artigo de refleção – semelhante ao que escreveu Sarah Garland, “The Space, the Gear, and Two Big Cans of Beer”: Fora do Eixo and the Debate over Circulation, Remuneration, and Aesthetics in the Brazilian Alternative Market no Journal of Popular Music Studies, Volume 24, Issue 4, Pages 509–531 (procure na Internet e leia) – onde possa avaliar os logros e os problemas de FDE. Mas este post não é esse artigo: deixo para outra ocasião. Mas posso adiantar algumas observações: - Bruno Torturra tem razão quando escreve que a galera de FDE é “ligada a uma dinâmica econômica do que um real compromisso com a transformação e com a tolerância ao erro, ao vacilo, até ao calote que um processo tão sério como esse pode, e vai, gerar.” Isso é o que observei em várias das casas FDE: um grande compromisso, que admiro. - Mas também observei que o Pablo e Felipe tem vontade de poder, não exatamente poder no sentido político tradicional – embora vão cultivando (e às vezes recuando quando convem às) relações com políticos, empresas e fundações, trabalho de promoção que não é um pecado, certo – mas poder de posicionamento para gerenciar os processos culturais alternativos. Parte de esse posicionamento consiste em oferecer a políticos e outros detentores de financiamentos, encomendas, políticas, etc. uma base muito ampla, a rede cultural mais grande do mundo. Confira os números exagerados na imagem que eles mandaram do Grito Rock ao começo deste ano: 300 cidades, 300.000 pessoas, faixa etária 18-35, classes ABC. Vejam o mapa das suas pretenções hemisféricas e globais em (gritorock.com.br) e logo /mapa/ Ai concordo com Beatriz Segnier respeito aos “números fabulosos (e sempre superfaturados) da quantidade de pessoas que estavam comparecendo às sessões dos filmes, aos festivais de música, e do poder do Fora do Eixo em articular todas aquelas pessoas em todas estas cidades.” Essa é a “moeda” com que aumentam seu capital com as instituições e ainda – mas nem bem-sucedidamente – como os movimentos sociais. - FDE é um fenômeno fascinante porque inventaram um sistema de gerenciamento que disputa o poder da indústria cultural tradicional, mas para quê? Realmente consiste em um análogo dos indignados, do Occupy? Nem longe. Os jovens – e nem tão jovens – que colaboram em FDE têm boa vontade e vão realizar coisas muito boas, mas quem vai aproveitar essa boa vontade é o Pablo Capilé, que já é convidado às cúpulas onde se desenham as políticas já não só culturais mas sociais. Eu tive a experiência de participar num desses encontros em Madri da Secretaria Geral Ibero-americana (SEGIB) sobre ESPACIO CULTURAL, BASE PARA UNA ECONOMÍA DE LA CULTURA IBEROAMERICANA, onde era evidente que FDE estava-se posicionando para gerenciar um processo a nivel hemisférico. E nesse empenho é apoiado por uma série de aliados, como Juan Espinoza, Coordenador do programa Expresión y Compromiso: Arte, Cultura, TICs y medios de Comunicación en la Oficina Regional Sud América de Hivos. Escreveu em relação ao post de Beatriz Segnier: “Fora do Eixo tiene el respeto, la admiración y el apoyo militante del movimiento cultural latinoamericano!!!! TelArtes, REactiv#s Elgangocho.” Espinoza colaborou para que FDE conseguisse serrotá-nos o chão. Esse é um exemplo da relação que FDE estabelece com agências financiadoras, que estão dispostas a distorcer a verdade. Tem muitas redes militantes que apoiam a FDE, mas não todas. - No artigo que espero publicar no futuro vou entrar em outras observações, mas termino este breve post com a observação de que na contemporaneidade o gerenciamento e cada vez mais importante. Essa foi uma das mihas propostas no meu livro A Conveniência da Cultura (El recurso de la cultura, em espanhol, e The Expediency of Culture, em inglês). Não imaginei nesse momento – 2002-03 – que emirgiria um fenômeno tão da nossa época, em que a multidão se converte em moeda de posicionamento para quem sabe gerenciá-la bem (Negri, Virno e Lazzaratto, teóricos da multidão deveriam estudar este caso de distorção do molecular). FDE consegue impulsar processos aparentemente multitudinários mas para o acúmulo do poder, conseguido com a fagocitação de muitos outros de boa vontade. Retirado de https://www.facebook.com/george.yudice/posts/10201628952627685 em 8 de agosto de 2013