Vamos lá, outra vez, agora sem links pra atrapalhar... De volta ao mundo real O problema do Fora do Eixo não pode ser resumido as questões financeiras. Porque se fosse apenas isso, já estava resolvida a questão. A prestação de contas que apresentaram no “portal da transparência” é uma piada. Postaram os orçamentos apresentados aos editais como se fossem as “prestações de contas”. Além disso, a tal moeda “cubo card” apenas reforça essa idéia de obscuridade financeira. A bem da verdade, sejamos sérios: quem acredita em “moeda alternativa” nessas alturas da economia do mundo? O que muita gente acha, e tudo aponta para ser isso mesmo, é de que se trata de uma artimanha contábil para 1) monetizar a expropriação da mais-valia 2.0; 2) cumprir um papel de “caixa-2” de recursos públicos desviados (dos cachês, por exemplo). Ainda, bastaria algum jornalista mais sério que blogueiros neo-hippies investigar as suas relações com financiadores externos, não assumidas nas prestações de contas. O mais grave, no entanto, é o papel nefasto que cumpriram ao longo dos últimos anos para a cultura independente no Brasil e na América Latina. Por aqui, foram os responsáveis pela implosão de uma plataforma de festivais, que impulsionou a cena musical na década passada. Isso feito em nome de tentar cartelizar/monopolizar o novo mercado por meio de uma mega-produtora centralizadora de compra & venda de shows (que acabou não vingando). No mundo latino, atuaram, e continuam investindo nisso, para controlar um “corredor” de circulação, em especial no eixo Buenos Aires-Porto Alegre-São Paulo-Rio de Janeiro. Por outro lado, desenvolvem uma política autoritária em alguns países latinos, articulada com grandes financiadores externos, objetivando impor um “consenso” de métodos e formatos de organização de redes culturais. A explosão de denúncias neste momento não se trata de nada “orquestrado”, mas sim um acúmulo de pequenas e grandes maldades cometidas ao longo de vários anos. Este texto é apenas uma humilde introdução para abrir um debate sério sobre o tema, que no fundo se trata de como organizar uma cena cultural, musical independente no Brasil, além desses biombos utilitaristas. É preciso superar essa etapa de “movimento pós-hippie 2.0”, que não produz cultura tangível, como evidencia a “prestação de contas” recém-publicada que se refere apenas a “congresso”, “universidade”, “rede” e “centro multimídia”. É conhecida a ineficiência na produção de conteúdos (lembram da tentativa frustrada do portal Nagulha, ou do atual aparelhamento do Overmundo) para a rede. Ou a prática contumaz de eventos em geral sucateados para gerar “superávit”, a apropriação de produções realizados por outros, ou a incompetência para realizar eventos de maior porte. A construção de uma realidade cultural não pode ter hemegonia de uma articulação auto-centrada, seqüestrada por interesses obscuros de financiadores e, agora, pelo visto, partidários, ou de setores esquerdistas da política brasileira. As pessoas que estão se manifestando são corretas, um grande número delas eu conheço pessoalmente, e ao longo dos anos demonstraram seriedade na sua prática cultural e nas relações políticas. Pessoalmente, não tenho experiências negativas para relatar porque, mais por experiência de vida, do que por esperto, soube me afastar, ou não comprar as propostas de captura que apresentaram – e não foram poucas. Não se trata, portanto, de tentar desvirtuar o debate como se fosse uma luta entre “o velho e o novo”, taxando os críticos como “direita”, “velhos esquerdistas” e/ou “analógicos”. Essa reação ensaiada de setores políticos organizados apenas reforça o caráter do que foi, continua sendo, e pretende ser de forma ainda mais radical o Fora do Eixo. É preciso debater a produção real, os conteúdos resultantes, a estética dessa nova geração, de forma livre, liberta do controle de redes verticais, centralizadoras e afastadas do mundo real. * Aos que vão simplesmente me tachar de “direita”, e não quiserem saber mais sobre quem sou, uma ajudinha: sou jornalista, editor do portal Senhor F (15 anos na rede), organizar da Noite Senhor F (12 anos de existência), curador e organizador do Festival El Mapa de Todos (4 edições), produtor e apresentador do programa Senhor F Sem Fronteira (6 anos no ar, na RádioCâmara), diretor do selo Senhor F Discos (20 títulos lançados). Retirado de https://www.facebook.com/SenhorF2011/posts/616694728371314 em 13 de agosto de 2013